Zaloar Murat

A simplicidade e a simpatia do desembargador que fez história no judiciário de MS

Nossa equipe foi recebida na casa dele. Estava de bermuda e camiseta, e logo brincou: “Vou ter mesmo que usar terno nesse calor?”. Respondemos que era rápido, só para tirar fotos, e ele já soltou mais algumas piadinhas. Para mim não foi surpresa. Eu já conheço o Dr. Zaloar Murat há alguns anos e sei do seu jeito brincalhão, simpático e muito simples. Por ser desembargador, muita gente pode pensar que é uma pessoa inacessível. Que nada! Mesmo ocupando um dos cargos mais importantes do país, ele continua o mesmo. 

Zaloar Murat não se esquece de onde veio e valoriza o tanto que estudou e trabalhou para chegar até aqui. Nasceu em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, mas morou até os 10 anos em um distrito, um pequeno vilarejo. A mãe era dona de casa, o pai tinha um restaurante em um clube social. Foi na simplicidade e com muito esforço que o casal criou três filhos, Zaloar e duas irmãs.

“Meu pai foi responsável por muito do que eu sou. Puxei dele o senso de justiça, o senso muito aguçado de fazer a coisa certa”. Foi o pai que abriu os olhos do filho para o judiciário. Aos 13 anos, arrumou um emprego pro adolescente no Fórum da cidade. “Fui aprendendo. Era ajudante de escrivão, aprendi datilografia, bem novo aprendi a mexer nos processos. Naquela época, não tinha máquina de fotocópia; então eu tinha que datilografar tudo. Fiquei bom nisso. Em pouco tempo sabia fazer de tudo lá dentro”, lembra.

Assim entrou no mundo jurídico e não saiu mais. Fez faculdade de Direito. Em 1978, abriu um escritório de advocacia com um sócio, mas não durou muito. Ele queria melhorar na vida porque bem jovem, com cerca de 21 anos, conheceu o grande amor de sua vida, Maria Inês. Queriam casar e formar família. 

“Mais uma vez meu pai me aconselhou. Falou pra eu ir pro Paraná, pois lá que era bom de ganhar dinheiro. Mudamos. Dava aula para o 2º grau e tinha um escritório de advocacia. Mas não ganhava muito dinheiro; dava para sobreviver”. 

Em 1985, nasceu o primeiro filho, Leonardo. Em 1987, veio o André. O caçula tem necessidades especiais; por isso, Maria Inês ia muito para Curitiba levar o filho para o tratamento. “Os custos aumentaram, pensei que teria que encontrar um trabalho mais estável, com melhor remuneração. Então pensei em fazer concurso público”.

Agora presta atenção nesta parte da história, pois parece filme. Um dia, a esposa estava passeando na praia e uma folha de jornal voou até onde ela estava sentada. Ela segurou e viu um anúncio: “Concurso para Juiz em Mato Grosso do Sul”. Quando chegou em casa, comentou com o marido. Mas ela não tinha guardado a página. Então, ele ligou nos jornais da cidade praiana em busca daquele anúncio. Encontrou. Faltavam poucos dias para terminar o prazo e precisava juntar muitos documentos. Mas tudo estava a seu favor. O prazo foi prorrogado e ele conseguiu se inscrever.

Veio para o MS, fez a prova, mas reprovou em uma matéria. “Mas não fiquei triste, percebi que fui muito bem e teria chance se estudasse um pouco mais. Tentei mais uma vez e fui reprovado. Na terceira prova, minha esposa falou: ‘Na próxima vez já vou viajar com você porque você vai passar e vamos nos mudar’.” Então, ele passou. 

De lá para cá, sua família praticamente virou sul-mato-grossense. Assumiu a vaga em 1989, passou por Paranaíba, Sete Quedas, Itaporã, Amambai e Dourados. Em Dourados fez história. Foi o primeiro juiz da recém-criada Vara da Infância e Juventude. Ficou lá de 2001 até 2019. 

“A Vara da Infância marcou minha vida. Foram inúmeros projetos, trabalhei com diversos abrigos e, apesar de todas as dificuldades, conseguimos deixar tudo encaminhado. É uma satisfação imensa acompanhar os processos de adoção, acompanhar as crianças em uma nova família”.

Entre as diversas histórias marcantes, Dr. Zaloar nunca vai esquecer a do bebê que nasceu em seu gabinete no Fórum. “A mulher estava grávida e iria entregar para adoção. Estava na entrevista que sempre fazemos e ela começou a sentir dores e gemer. Eu brinquei: ‘Vamos acelerar, pois o nenê vai nascer aqui’, mas nunca pensei que minha brincadeira fosse virar realidade”. 

Quando a mulher saiu da sala dele, entrou em trabalho de parto. A assessora correu no gabinete e falou: “O bebê está nascendo, doutor!”. Chamaram os bombeiros, mas não deu tempo. O pessoal do Fórum juntou umas toalhas e a criança veio ao mundo ali mesmo.

“Depois foi entregue a uma família e eu vejo fotos do menino até hoje. Nunca vou esquecer”. Aliás, ele gosta de acompanhar as crianças e ficar sabendo como muitas delas estão atualmente.

Apesar de a Vara da Infância ser seu “xodó”, em 2019 veio a promoção. Tornou-se desembargador, cargo que ocupa atualmente. “É o ápice da carreira de juiz, então tenho orgulho e satisfação pessoal”. 

Para o Dr. Zaloar, a busca pela justiça está presente em todos os sentidos de sua vida. “Justiça é parâmetro de medida, consegue equilibrar o comportamento social. Vivemos em um mundo violento em demasia. O judiciário é o funil moral que aplica na sociedade um respeito à ética e à lei”, concluiu. 

PINGUE- PONGUE

Um momento inesquecível: “Casamento, nascimento dos filhos e a posse no Tribunal.”

Uma viagem marcante: “Gostei muito de Paris, mas a mais marcante foi Peru, pela cultura Inca.”

Dou risada quando: “Gosto de piadas em geral.”

Uma música especial: “Sou bem eclético. Emoções, de Roberto Carlos; New York, de Frank Sinatra. Mas gosto também de música gauchesca e samba.”

Família é ...: “O baluarte da sociedade.”

Não vivo sem ...: “Alegria de estar em família e prazer do trabalho desenvolvido.”

Na folga eu...: “Leio livros de biografias.”

Uma saudade: “Da minha mãe.”

Frase: “Tudo é vaidade.”

Celebrar é ...: “Aproveitar os momentos em família ou com as pessoas de quem gostamos.” 

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