Mariza Fátima Gonçalves
Mulher em busca de justiça! Conheça a história da defensora pública que, desde criança, queria fazer a diferença.
Durante nossa entrevista, ela fez, pelo menos, três pausas para atender o telefone e fazer algumas ligações. Estava de plantão e, ainda mais em tempos de pandemia, o serviço não para! Era gente precisando de vaga em hospital, era gente que perdeu algum parente e não conseguia um atestado de óbito. Nossa Celebridade desta edição é uma mulher em busca de justiça. Uma mulher que está atenta a quem precisa de auxílio. É Mariza Fátima Gonçalves, defensora pública.
Ela veio de família simples. Nasceu e passou a infância em um sítio que fica em um distrito de Cândido Mota, interior de São Paulo. Os pais, agricultores, tiveram três filhos. Mariza é a caçula. Desde criança amava ler e estudar. O pai contava que a menina sempre se interessou em ouvir histórias de pessoas mais necessitadas. “Se tinha gente por perto, eu estava lá ouvindo as histórias dos vizinhos, dos mais pobres e aí eu falava pro meu pai: você tem que ajudar aquele homem”, lembra Mariza.
Foi por isso que ela sempre soube que queria fazer faculdade de Direito. Estudou em escola pública, com muita dedicação. Quando chegou a época de prestar vestibular, passou, bem colocada, em duas universidades públicas concorridas, na USP e na do Paraná. “A do Paraná ficava mais perto de casa; então, por não ter dinheiro para me sustentar na capital paulista, optamos pela universidade do Paraná”.
Fez a faculdade com maestria, estudava fora dos horários de aula, trabalhava e conseguiu até um diploma de honra ao mérito. Formou-se e logo prestou concurso público. Aos 23 anos, tornou-se defensora pública, em Mato Grosso do Sul. “Na época, Defensoria Pública era algo novo, foi criada em 1988, então sabíamos pouco sobre essa instituição. Mas escolhi prestar esse concurso porque a proposta da defensoria é defender aqueles que não têm condições financeiras. Eu sempre soube que queria fazer algo ligado a ajudar o próximo”.
Mudou-se para Corumbá, depois passou por Inocência, Ivinhema e, em 2013, veio para Dourados, onde está até hoje. “Meu pai sempre foi meu grande exemplo e inspiração. Ele me ensinou que todos são importantes, todos têm que ser respeitados na sociedade. No meu trabalho e na minha vida eu tento me lembrar disso todos os dias”.
Mesmo nova, encarou os desafios. Um deles era, muitas vezes, ser a única mulher em audiências ou júris. “O meio jurídico era dominado por homens. Passei muitas vezes por situações de ser colocada por último para falar, de ser constantemente interrompida. Mas lutei pelo meu lugar e pela igualdade”.
Para Mariza, ser defensora é mais do que trabalho, é missão de vida. “Acho que um defensor tem que ter dentro de si a sede pela justiça. Tem que ter convicção de que está lutando pelo certo. A defensoria é a ponte entre a descrença e a esperança na justiça. Faz as pessoas acreditarem novamente”.
Quando se fala em direito pela saúde, Mariza, se emociona. É que ela sentiu na pele o que é precisar de atendimento e não ter dinheiro para pagar um hospital privado. Quando cursava o quarto ano da faculdade, o pai ficou na UTI. “Toda vez que eu lido com um caso de saúde pública, não é ‘só’ um caso, é muito importante; eu sei como é ter alguém amado precisando ser cuidado. Às vezes as pessoas podem não entender o motivo de eu me envolver tanto nessas questões, mas uma das minhas missões é garantir o direito à saúde”.
Mariza é casada, mãe de Ana, de 21 anos, e Arthur de 16. Mesmo em meio a tanto trabalho, dentro e fora de casa, arruma tempo para fazer serviço social voluntário. Participa de vários projetos. Fundou, com a amiga Helena, a Associação Amigos da Vida, que busca valorizar o sistema público. Também participa dos projetos “EPIS do Bem” e CoronaVidas.
“O direito está no papel. Mas temos que lutar constantemente para colocá-lo em prática. Tento fazer isso não só no trabalho, mas em toda a minha vida. Encaro como uma missão pessoal”.
PINGUE- PONGUE
Defina Mariza em uma palavra: “Destemida.”
Defender: “Lutar pelo justo.”
Uma viagem inesquecível: “Paris.”
Comida preferida: “Risoto.”
No tempo livre eu: “Converso.”
Três objetos sem os quais não vivo: “Celular, fones de ouvido, meu piano.”
Família é: “Minha base.”
Uma música marcante: “Ballade pour Adeline (Richard Claydeman).”
Dou risada quando: “Estou com meus filhos e a Pucca (minha cachorrinha).”
Choro quando: “Sinto saudade.”
Ser mulher é: “Se reinventar.”
Uma saudade: “Meu pai.”
Um sonho que ainda não realizou: “Ser fitness.”
Celebrar é: “Fazer cada dia valer a pena.”