Cobertura Vacinal no Brasil, necessita de medidas urgentes
O Brasil precisa trabalhar com urgência para reverter a queda da cobertura vacinal no país, destacou o diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Dr. Jarbas Barbosa, em visita oficial ao país na última semana.
O líder do braço regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatizou a sua preocupação com o declínio da taxa de imunização no Brasil, que, em 2022, foi de 67,94%. O tema foi um dos pontos principais da reunião do Dr. Jarbas Barbosa com o presidente da República, Luíz Inácio Lula da Silva, e com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, na última quarta-feira (5).
Após o encontro, o diretor da OPAS disse que congratulou o governo federal pelas recentes iniciativas para fomentar a imunização. "Parabenizei o presidente Lula por sua forte defesa da imunização e por atrelar a necessidade de as pessoas estarem com o cartão de vacina atualizado para receber o Bolsa Família”, afirmou.
Na reunião, que contou ainda com a participação da representante da OPAS e da OMS no Brasil, Dra. Socorro Gross, o diretor da organização também enfatizou a importância de estreitar as colaborações regionais para a inovação e produção de medicamentos e vacinas, aumentando a auto-suficiência das Américas na produção desses insumos essenciais.
A queda nas coberturas vacinais tem sido um problema em várias partes do mundo, sobretudo após a pandemia de covid-19.
Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) [1] publicado em abril alerta para a situação preocupante da imunização infantil. Dos 55 países analisados, 52 reportaram queda na cobertura vacinal. Trata-se do maior retrocesso dos últimos 30 anos.
No Brasil, segundo o documento, cerca de 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose da vacina DTP, que previne contra difteria, tétano e coqueluche, entre 2019 e 2021.
Dois dias após a reunião com o diretor da OPAS, Nísia Trindade reiterou o compromisso de reverter a queda nas imunizações. "A cobertura vacinal é uma prioridade absoluta”, afirmou Nísia Trindade, em reunião sobre o tema com o presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Dr. Clóvis Francisco Constantino. A meta do governo brasileiro para o território nacional é ultrapassar 90% de cobertura vacinal. O Brasil superou esse patamar pela última vez 2015, quando registrou 95,07%.
A ministra adiantou ainda que a promoção da imunização também será um compromisso do Brasil durante o período na presidência rotativa do Mercosul, que vai até o fim deste ano.
Segundo a ministra, o foco agora é um movimento contínuo, sem limitação à existência de campanhas de imunização. "É claro que, como é tradicional na área de vacinação, nós organizamos campanhas específicas. Mas a ideia é de movimento, de uma continuidade [na ações de imunização]”, afirmou.
Na mesma reunião, o Dr. Éder Gatti, que comanda o departamento de Imunizações do Ministério da Saúde, destacou: “Hoje, a gente vive um cenário preocupante de queda de coberturas vacinais. Isso afeta as vacinas da rotina e coloca a gente na rotina de reintrodução de doenças que não fazem mais parte do nosso cenário”, afirmou.
O médico epidemiologista salientou que o plano federal para ampliar a vacinação já está em curso, e destacou algumas iniciativas, como a promoção do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que completa 50 anos em 2023, um departamento independente no Ministério da Saúde. Segundo ele, isso dá mais autonomia e agilidade para as ações e facilita a construção de políticas públicas.
O Dr. Éder Gatti destacou ainda que, até o fim do ano, serão realizadas iniciativas de imunização em todo o país, organizadas sobretudo pelos próprios municípios, mas com apoio dos governos estaduais e federal.
"Vamos oferecer aos municípios um planejamento diferenciado, onde a imunização sai da unidade de saúde e vai até a pessoa que precisa ser vacinada. Também haverá transferência de recursos para estados e municípios, um recurso excepcional para ações de vacinação, coisa que o Ministério da Saúde não faz há anos. A ideia é concentrar esforços onde há maior número de não vacinados. Ali é onde precisamos ser mais intensos em ações”, completou.
Ainda durante o evento, o Ministério da Saúde anunciou que, a partir de 2024, será feita a substituição gradual da Vacina Oral Poliomielite (VOP) pela versão inativada (VIP) do imunizante. A decisão foi tomada após recomendação da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI), que considerou novas evidências científicas para a proteção contra a doença. Apesar da mudança, o Ministério enfatizou que o mascote Zé Gotinha, "símbolo histórico da importância da vacinação no Brasil, continuará em ação.