Borboletas: Uma segunda chance para amar

Projeto profissionalizante leva transformação para adolescentes e voluntários

Transformação e adoção são duas palavras que por si só já significam muito, e quando colocadas lado a lado a força dessa união muda vidas. Sabe aquela história que parece saída de um roteiro de filme de cinema, pois é, essa é uma delas. Tudo começa com um desejo forte de ver a transformação na vida de jovens em situação de acolhimento.

Lagarta

Em 2018, Nislley Lara, que atuava com Treinamentos de Liderança, se reuniu comum grupo de mulheres que tinham o mesmo desejo ‘desenvolver um trabalho social que impactasse de forma positiva a vida das pessoas’. Foi com essa essência que em janeiro do mesmo ano nasceu o Projeto Profissionalizante Borboletas, que tinha como objetivo realizar encontros de mulheres para apoiar um projeto social, fazer networking e estruturar ações para a comunidade.

Nessa caminhada do bem, as Borboletas encontram a casa de acolhimento Renascer, instituição douradense municipal que acolhia adolescentes do sexo feminino dos 12 aos 17 anos.

“Nesse primeiro contato conhecemos a diretora do local, Maria das Graças, que se colocou à disposição na ajuda que poderíamos proporcionar e na transformação que isso causaria no dia a dia das jovens abrigadas. Foi a primeira vez que descobrimos que as crianças maiores e jovens, que vão para acolhimento e não são adotadas, ficam até os 18 anos na Instituição, após isso elas estariam sob sua própria responsabilidade. Essa informação foi muito impactante”, lembra Nislley.

Com o desejo de transformar a vida dessas jovens e capacitá-las para o futuro, o grupo formou uma rede de apoio para levar às adolescentes acolhidas convivência afetiva e educação empreendedora.

Em julho de 2018, as Borboletas apresentaram os projetos de desenvolvimento pessoal e cursos profissionais para as moradoras do Renascer que optaram pelo curso de Escovista e Maquiadora, ofertado pela Alessandra Nakamura, proprietária do salão de beleza SPA do Cabelo.

Como forma de incentivo às adolescentes, as Borboletas faziam as aulas junto com as jovens. 12 acolhidas fizeram as aulas e ao final do curso se tivessem cumprido todas regras ganhariam uma maleta de maquiagem completa, secador de cabelo, escovas e formatura.

Casulo

As ações do projeto por si só já eram transformadoras para as participantes de ambos os lados, cada encontro era valioso, mas o que elas não imaginavam é que a verdadeira transformação ainda iria correr.

A líder de treinamentos, Nislley, mergulhou de cabeça no projeto e quanto mais se aproximava das jovens moradoras do Renascer, mas se encantava com todo o potencial que havia ali escondido atrás de histórias de muito sofrimento.

“Quando as meninas me contavam suas histórias, eu não conseguia me conformar com tamanho sofrimento. Nos encontros conheci a Julia Robert que tinha 14 anos na época, era muito dedicada, talentosa e com um potencial enorme. Comecei a admirá-la e entrei a fundo para tentar entender sua história. Mesmo tão nova a vida de Julia já havia sido colocada em muitas provas de sobrevivência”, lembra emocionada.

A conexão com a adolescente com nome de atriz de Hollywood ficou cada vez mais forte, foi aí que a transformação se uniu à adoção.

Borboleta

Nislley e seu esposo Raphael se aproximaram da história da adolescente e descobriram que Julia tinha um irmão caçula de 12 anos chamado Tom, e então começaram uma aproximação. Aos finais de semana, quando Julia Robert tinha permissão para sair com o casal, eles buscavam Tom para que os dois pudessem se aproximar e matar a saudade.

“Acreditávamos que teríamos primeiro a guarda da Julia Robert, mas fomos surpreendidos com a entrega do Tom por parte do genitor. Então de ‘Tia’ e instrutora em projeto, me tornei uma mãe leoa e apaixonada, não exatamente nessa ordem”, brinca com a situação. Logo depois, foi aprovada a adoção da Julia.

Onde antes viviam dois, agora eram quatro, e como em toda família a adaptação é necessária. “Meu esposo e eu estudamos esse universo da paternidade e maternidade. Fizemos terapia, todos fomos encarando nossos medos e nos conectando. Foi nessa época que me tornei Terapeuta BioSistêmica, profissão que sigo desde 2019 juntamente com a atuação de recrutadora na Sanis RH, minha empresa. Construímos uma rotina, um relacionamento familiar de muito amor e cura”, pontua Nislley.

O que começou com o objetivo de ‘desenvolver um trabalho social que impactasse de forma positiva a vida das pessoas’; se tornou a história da família de Nislley, Raphael, Julia e Tom.

O voo da Borboleta

Gerar oportunidades para quem tem de sobra talento sempre foi o objetivo de Nislley e quando ela e o esposo viram que o caçula da família tinha muita energia, foram em busca de algo que pudesse canalizar toda aquela explosão de sentimentos de forma produtiva.

Nislley conta que foi o próprio Tom que encontrou e escolheu o esporte que iria praticar e desde a primeira aula foi paixão certa pelo Kickboxing e Muaythai. “ Tom, virou um aluno dedicado e logo depois já se comportava como atleta. Ele direcionou sua energia e trabalhou disciplina, foco e autoconhecimento. Conhecemos ótimos profissionais que acreditaram no Tom, tenho muita gratidão pelo primeiro treinador dele, Gabriel Dalmaso”, lembra.

Após alguns meses de treinamento em 2021, Tom foi convidado a participar de competições e quando entramos nesse mundo das lutas o combinado era sempre preservar a saúde do Tom. Nessa época o treinador já era o Luan Dalmaso. Nislley conta que na primeira luta, jogaram a toalha no 2º round para preservar a saúde de Tom, foi nesse momento que ela entendeu que aos 14 anos o filho já havia escolhido seu sonho de vida, o esporte.

“Aprendemos muito com a primeira luta, percebemos que esse propósito do Tom exigiria muita disciplina dele e da família todo apoio para que ele pudesse caminhar nessa jornada”, explica.

Com apoio da família não demorou muito para que Tom começasse a receber os primeiros resultados. Como aluno da academia Fighting Studio de Dourados (MS), Tom participou de competições em Dourados/MS, Campo Grande/MS, Rio de Janeiro/RJ e em Canoas/RS. Em novembro de 2021, no Rio Grande do Sul, conquistou o 1º lugar no Campeonato Brasileiro na categoria 63 Kg 14-15 anos.

Desde o início das Borboletas, em 2018, foram realizadas quatro adoções de jovens maiores de 14 anos. O projeto cumpriu mais que seu objetivo, transformou a vida de pessoas para sempre, e agora em 2022 dá lugar a um novo sonho, maior e mais plural, que atenderá jovens maiores de 15 anos. Em breve, serão divulgadas novas informações.

Como família, Nislley e Raphael, tem como objetivo incentivar os filhos na realização dos sonhos, “nossos caminhos se encontraram através do projeto e juntos estamos construindo uma família”. Transformação e adoção que abriram novas chances para o amor. (Entrevista e coleta de informações: Charles Aparecido | Texto: Liziane Zarpelon)

Para incentivar o atleta Tom Lara Bueno e conhecer sua rotina e resultados siga a página no Instagram @tom_lara_bueno

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