Aceitar as derrotas e aprender com elas

Quando eu era pequeno meu pai sempre me dizia que nós devemos aprender a aceitar as derrotas e tirar o melhor proveito delas. “É o melhor aprendizado que podemos ter na vida”, dizia ele. Meu pai foi um cara que nasceu pobre, mas conseguiu estudar, se formou em contabilidade e virou gerente de banco numa época em que a profissão era valorizada e remunerava bem. Conseguiu construir um bom patrimônio para a família. Mas também teve alguns revezes. Foi nesses momentos que ele absorvia o máximo que podia da situação para usar como aprendizado e experiência.

Aprendi com ele que aquilo que dá certo pode ser comemorado, mas também que se acertarmos sempre, ficamos acomodados. E é nos erros que aprendemos mais! Sentindo a dor da falha, sempre nos voltamos para o que causou aquilo e tentaremos, a todo custo, ir por outros caminhos, outras alternativas, até conseguirmos descobrir o que fará dar certo.

A vida é assim. Meu pai ilustrava esse ensinamento nos fazendo experimentar, quando crianças, comidas que dizíamos não gostar. Falava ele “Como é que você não gosta se nunca experimentou?”. E assim nos fazia comer coisas como jiló, quiabo, rabanete e experimentar uma série de outros alimentos para que fossemos distinguindo aquilo que gostávamos ou não, por já ter provado.

Hoje sou uma pessoa extremamente resolvida em vários aspectos porque errei muito na vida, tive muitas perdas e derrotas, mas aprendi com elas de tal forma que, quando volto a errar novamente em alguma coisa (e isso é inerente ao ser humano), tenho menos dores e insatisfações que antes. Voltando a repetir o que meu pai dizia, “As vitorias são apenas comemoradas, mas o que nos ensina mesmo são as dores!”.

Hoje, após as eleições que consagraram Bolsonaro, vejo uma lamentável “inaceitação” da derrota por parte daqueles que queriam o PT de volta ao poder. É uma demonstração clara de que não querem aprender com a perda e sim passar a vida lamentando-a. Pior que isso, antes mesmo dele assumir seu cargo na presidência, já vi desenrolar uma infinita lista de suposições, calcadas apenas em suas falas, que demonstram o quanto desejam que seu governo “dê errado”. E não vão descansar enquanto isso não acontecer.

Esse ranço da esquerda é o que divide o país. A disseminação de ódio, com ameaças de invasão a propriedades, de agressões concretizadas a quem votou em Bolsonaro e discursos inflamados contra isso ou aquilo, demonstram o quanto não ter ganho a eleição está sendo difícil de engolir. Enquanto vejo gente da direita, e os mais sensatos da esquerda, buscando uma conciliação, tendo reais esperanças de mudança, torcendo para o fim das coisas que estão erradas, da corrupção e do desperdício do dinheiro público, existem aqueles que querem ver o circo pegar fogo sem se lembrar de que estão na plateia.

Como já disse aqui, algumas vezes, o momento agora é de união, de juntarmos forças para combater o que realmente deu errado e não de ficar acendendo vela para o defunto que ainda não morreu. E uma demonstração clara de que não aceitaremos deslizes novamente, são petições movidas contra algumas decisões já anunciadas, assinadas por grupo que apoiaram e votaram no futuro novo governo. Estamos num momento em que a consciência deve prevalecer sobre a truculência.

Bolsonaro vai assumir e precisamos dar-lhe tempo de mostrar a que realmente veio. É imbecilidade torcer para que o prédio caia com a gente morando nele. Temos de ser atentos e efetivos em nossas cobranças, mas se nos dividirmos, enfraquecemos.

Não votei em Bolsonaro por ele representar o militarismo da extrema direita, longe disso. Também não o escolhi por opção, mas pela falta dela. Só que para mim, mais do que as especulações a respeito do que ele tem dito sobre armas, meio ambiente ou contra gays – que são imperdoáveis, claro – ele ainda representa um duro golpe contra a corrupção que assola esse país há anos, contra a imoralidade e contra a destituição da família. Se ele vai conseguir, não sabemos, mas não temos o direito de crucificá-lo antes dele cometer seus pecados.

Se você é daqueles que apostam no “Vai dar errado” só para poder dizer “Eu avisei!”, você não está querendo uma democracia ou um país crescendo e se fortalecendo. Você está pensando apenas em si mesmo e querendo ter razão.


#matérias #capa

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