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Meu parto: a história que marcou minha vida!

Capítulo 1: Decisões

Meu relato de parto começa antes do parto. Vou explicar:

Minha primeira filha tive por cesárea e foi uma boa experiência, nada a reclamar. Mas, com o passar do tempo, fui aprendendo coisas novas e importantes que me fizeram refletir e desejar ter uma nova vivência: o parto vaginal.

Não me tornei uma ativista, nem pretendia ter o normal “custe o que custar”. Fiz um propósito comigo mesma de que respeitaria meus limites e entregaria nas mãos de Deus. Aliás, entrega é uma palavra importante nesse processo. Eu sou uma pessoa extremamente controladora, planejada e ansiosa. Portanto, ter uma vivência desse tipo era um desafio pessoal e espiritual!

A partir do momento em que tomei essas decisões, eu sabia que, para conseguir, eu teria que estudar. Sim, pois parir naturalmente no Brasil não é simples. Existe uma cultura enraizada que estimula e te leva a fazer cirurgia. Então, eu estudei! Além disso, teria que ter comigo uma equipe de profissionais que me ajudasse, entendesse e respeitasse meus desejos e limites.

Pesquisei, orei e escolhi o dr. Matheus Goudinho. Desde a primeira consulta, senti compatibilidade em vários sentidos. E ,nessa primeira consulta, ele também me falou que tinha uma viagem marcada pro fim de maio, mas que acreditava que daria certo, pois até lá eu já estaria com 40 semanas.

Contar isso é muito importante porque fez parte de uma prova de fé.

E aí saltamos 40 semanas e vamos para frente desse relato.

Eu estava até que tranquila à espera da hora da Pérola. Mas chegou a tão falada DPP (data provável, quando a gestação completou 40 semanas) e até então nenhum sinal. Fui na consulta, fizemos o primeiro toque do pré-natal e ... NADA! Colo fechado, zero dilatação.

Aí bateu ansiedade. E, ao mesmo tempo, a preocupação com a data da viagem do médico. Eu sabia que ainda poderia esperar até quase 42 semanas, mas eu queria fazer com o médico que escolhi e me acompanhou durante quase 10 meses. Então, comecei a pensar em outras possibilidades. O doutor me acalmou, falou: “calma, não precisa ter pressa nem decidir nada. Ainda temos 6 dias muita coisa pode acontecer.”

Capítulo 2: O começo

 A consulta foi numa quinta, eu e Tiago conversamos à noite. Pensamos nas possibilidades (mudar de médico caso não viesse a tempo e ter parto normal? Indução? Cesárea?). Chorei! Orei! E fiz um propósito com Deus. Eu escolhi o médico após oração, tinha caminhado até aqui, então queria que fosse com ele. Se a bebê não viesse até segunda-feira, faria cesárea! Seria o sinal de que era pra ser assim.

Concordamos. Fiquei tranquila. Namoramos (dizem que ajuda, uiuiui).

Fui dormir. Quer dizer, deitei. Mas começaram cólicas um pouco mais fortes. Será ansiedade? Será que tá vindo? Não dormi. Passei a manhã de sexta com muita ansiedade e cólicas. Mas ainda não eram PRODOMOS. Para quem conhece, sabe que essas cólicas podem durar dias! Ainda não era trabalho de parto!

13:53 de sexta, ao limpar o xixi, vejo uma gosma no papel. Será o tampão? Sim, era o início do tampão. Apesar de ele ser um sinal, às vezes também demora dias para iniciar o TP. Então, calma!

Fui na consulta com a enfermeira para averiguar se não houve rompimento de bolsa. Ah! Esqueci de contar: com 36 semanas, testei positivo para streptocopus, uma bactéria que, quando rompe a bolsa, já teria que ir pro hospital para eu tomar antibiótico para proteger a bebê. Verificamos, e a bolsa não havia rompido; então, voltamos para casa.

Sem tampão, Tiago achou melhor já levar Monalisa para dormir na vó. Levamos e depois fomos jantar. Voltamos e começamos a assistir série, mas tivemos que parar duas vezes porque as cólicas estavam mais fortes. Aí fomos “dormir” para descansar, caso Pérola viesse.

À uma hora, comecei a sentir o que realmente eram os PRODOMOS. Uma cólica mais intensa e uma tremedeira no corpo, que ia e voltava a cada uma hora… E depois a cada meia hora. Mas dava pra aguentar, uma dor moderada. Às 5h aumentou. Falei por WhatsApp com minha enfermeira Laiza, que em todo tempo, me acompanhava e ia explicando o que estava acontecendo comigo. Às 7h, fui tomar um banho e fiquei meia hora embaixo da água quente; ajudou a aliviar.

 Capítulo 3:  A maior loucura da minha vida!

Por volta das 8h, a dor começou a apertar. Chamei minha doula. A enfermeira Laiza foi acompanhar outro trabalho de parto que já estava mais adiantado e enviou uma colega (Kesia) para me acompanhar enquanto isso. Ela ouviu o coração da bebê e fez toque. Eu estava com quase 5 cm de dilatação. Tudo ótimo! Restava esperar.

O melhor é ficar o máximo de tempo em casa enquanto dilata, pois evita estresse, ansiedade e, consequentemente, intervenções desnecessárias.

Só que, por volta das 10h, minha bolsa estourou e aí fomos pro hospital, para começar com antibiótico.

No carro, estávamos eu, Tiago e a enfermeira Kesia. Durante o caminho, tive duas contrações fortes e Namo disse: “Não é que parece filme mesmo?”. Ri, para não chorar! Comecei a pensar: o que que eu fiz? Por que escolhi isso? Mal sabia eu que ainda ia demorar mais algumas horas…

Chegamos ao hospital. Meu médico e minha enfermeira continuavam num outro trabalho de parto. Eles estavam na sala especial para receber gestante. Então fui acomodada em outro quarto.

Lá comigo continuou Tiago, a enfermeira Kesia e a minha doula Newellen. Nossa querida pediatra Andiara começou a preparar o quarto para a chegada do bebê, colocou aquele berço aquecido e os materiais necessários. Afinal, pelo ritmo das contrações parecia que não demoraria tanto.

Eu sentia dor, mas não conseguia chorar. Não aquele choro de lágrima, sabe? Mas era um choro de lamento. De um sentimento profundo que jamais senti. Era uma dor intensa, diferente! Não era tristeza. Era dor e, ao mesmo tempo, força.

Capítulo 4: Entrando no mar…

Minha mãe chegou. Não era combinado ela acompanhar o TP. Mas ela disse que não aguentou e precisava me ver de perto. Chegou na hora certa, quando eu achava que não ia dar conta. Mais uma integrante entrou no time.

A enfermeira monitorava os batimentos da bebê com frequência. Dr. Matheus veio me ver e fez um toque; eu estava com 8 cm.

Senti fome! Almocei. Sentia como se eu tivesse dentro do mar. No momento de águas mansas, eu conseguia comer, beber água, conversar um pouco e até rolaram umas piadas típicas de Miriam.

Mas aí as ondas vinham. E, em vez de eu fugir delas, mergulhava, mergulhava fundo, entrava no ritmo, era mais uma contração.

“Quando isso vai acabar, Senhor!?”, “Não poderia ser mais fácil?”, “Eu não poderia ser uma daquelas mulheres que o bebê simplesmente escorrega?”, “Minha primeira cesárea foi tão boa, por que escolhi isso agora?”, “Como está minha bebê?” Eram alguns dos pensamentos na minha cabeça…. mas aí, nessas alturas, eu não pensava em desistir, já tinha nadado tanto… eu queria chegar na praia.

Por conta do Strepto positivo, a cada quatro horas, eu precisava de uma nova dose de antibiótico na veia. Não sei como, mas eu estava ligada no tempo. Perto de dar a hora de uma nova dose, eu perguntava e os lembrava do remédio, (como se precisasse, mas controladora e preocupada se mete em tudo). Já haviam passado 8 horas desde que a bolsa estourara. Pro bem do bebê, não podia demorar muito mais tempo por conta da bactéria.

Capítulo 5: Ainda não é o fim

Dr. Matheus fez um novo toque. Ao mesmo tempo em que eu queria saber em quanto estávamos, eu não queria, pois vai que tinha dilatado pouco? Mas vamos lá: estava com 9,5 cm. Faltava pouco para entrarmos na fase final.

Só que aí as contrações diminuíram o ritmo.

Eu estudei para parir. Eu sabia quais eram minhas opções. Podia pedir cesárea; mas isso, naquele momento, só era uma opção pra mim se fosse importante pra saúde do bebê, só se o médico falasse que teria que fazer. Eu estava pensando “Bom… acho que podemos usar ocito…”. A Laiza interrompe meu pensamento e fala: “Podemos usar ocitocina”. A newellen: “E podemos tentar novas posições”.

Eu pergunto pro Matheus: “O que a oxitocina pode acarretar mesmo??. “Podem vir dores mais frequentes e ficar mais forte, mas você aguenta, a gente vai te ajudando”.

Eu: “O que é um peido pra quem tá cagado?” (Sim, falei isso).

Tiramos uma foto. Namo, em vez de dizer Xisss, fala: Ocitociiiiina! Rimos!

“Newellen, em qual posição eu fico?” Ela me orienta. Laysa colocou uma playlist com músicas de louvor. E aí juntou: medicação + posições = as dores voltam! As maiores dores da minha vida! Que doideira…

Capítulo 6: Continue a nadar…

Eu estava de quatro em cima de uma bola quando gritei: “Mãe, Namo, venham aqui! Façam uma oração”. Cada um fez uma oração.

Em fiquei em pé! E comecei a orar em voz alta. Falei; “Filha vem pra mãe! Eu preciso que você venha! Senhor, tenha misericórdia! Mande minha filha pra mim”.

Começa a tocar a música “Aquieta minha alma”. Eu falo: “Eu já dancei essa música na igreja. Eu amo essa música”. Começo a “dançar”, fazer alguns gestos pois os movimentos estão limitados pela dor. Todos no quarto começaram a cantar.

Matheus fez um novo toque! “Miriam, chegou a hora. Você está totalmente dilatada. Agora vem a parte mais difícil que depende totalmente de você. Estamos aqui pra te ajudar. Mas é tudo contigo. Quando vier a vontade de fazer cocô você terá que fazer força. Uma força lá embaixo”.

Laiza disse: “Tiago, essa também é sua hora”. Tiago sentou atrás de mim, Laiza sentou na minha frente e deu as pernas pra eu fazer força me apoiando nela. Matheus deitou no chão ao lado dela e ficava de olho lá embaixo. A todo momento, eles monitoravam o coração da bebê. E nos falavam como ela estava.

Capítulo 7: Mergulha nessa onda!

E lá veio a tal da vontade de fazer cocô. Eu pensei: “Pronto, minha dignidade já tava perdida mesmo, afinal fazia xixi toda hora no chão (era a bolsa ainda saindo liquido, mas pra mim eu tava mijando na frente de todo mundo), agora só falta cagar aqui também”. Mas bora lá fazer essa força. Senhor amado! Essa força doía na minha alma. Eu sentia como se a bebê estivesse perto, mas ela não saía.

Matheus e Laiza trocaram de posição. Ele fala: “Miriam, eu sei que é difícil; mas, quando vierem as próximas contrações, você faz uma força contínua, o mais longa que conseguir. Falta muito pouco!

Minha mãe fala: “Filha, você é muito mais forte do que eu, eu tô muito orgulhosa de você. Continua, ela tá vindo!”. Tiago aperta minhas mãos. Minha mãe me abana. Tiago enxuga meu suor com lenço umedecido.

Eu grito: “Filha, sai! Me ajudem! Puxem ela!”

“É com você, Miriam, tá quase! Tá perto. Já vemos a cabecinha.”

Capítulo final: Surfando em águas profundas

E aí, dentro de mim, eu falo: “Na próxima contração ela vai sair, porque não aguento mais, vou desmaiar; então, na próxima, farei a maior força da minha vida.”

 

Dentro da minha mente foi assim: “Respira. Tá vindo. Mergulha nessa onda!”

Mergulhei! Me afoguei! Entrou água nos meus pulmões, não conseguia mais gritar. O grito mudo mais longo da minha existência ecoava naquele imenso mar.

O silêncio da minha mente foi rompido com todo aquele “time” gritando no quarto: “Vai, vai, vai! É agora, vaaaaaiiii!

Às 20:37 do dia 21 de maio de 2022, quase 26 horas após o início de tudo:

“Nasceu! Nasceu você conseguiu!”

O fôlego voltou. Não morri afogada. Parecia que eu estava andando sobre as águas com minha filha no colo.

Levantei.

Tiago: “Aonde você vai? Você tá sangrando! O cordão tá aí!”

“Eu preciso levantar. Ela precisa mamar.”

Taquei ela no meu peito e, juntas, surfamos a onda mais louca da minha vida. Uma mistura de energia com calmaria. De força com paz. De água salgada do mar com o doce de um rio transparente!

Ela estava ali nos meus braços. Saudável. Sobrevivemos. Nadamos, nadamos e agora estávamos em águas tranquilas. Águas limpas e profundas. Consegui! Conseguimos, filha.