Comportamento de risco de jovens é maior que de idosos
Um estudo realizado na Faculdade de Medicina da UFMG examinou as tendências dos comportamentos de risco relacionados às Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) no Brasil. O estudo revelou que adultos jovens (18 a 34 anos) adotam 21% a mais de comportamentos de risco em comparação com pessoas idosas com 60 anos ou mais.
Para a pesquisa, foram analisados cinco fatores comportamentais de risco: consumo de frutas e vegetais (menos de cinco dias por semana), consumo regular de bebidas açucaradas (cinco ou mais dias por semana), tabagismo, consumo excessivo de álcool (quatro ou mais doses em uma única ocasião nos últimos 30 dias para mulheres e cinco doses para homens) e prática insuficiente de atividade física (menos de 150 minutos por semana). Além disso, foram avaliadas características sociodemográficas, como sexo, faixa etária e nível de escolaridade.
Os comportamentos de risco que mais contribuíram para a ocorrência de múltiplas DCNTs foram tabagismo, consumo de bebidas açucaradas e excesso de álcool. Também foi observado que a presença conjunta de comportamentos inadequados é maior entre os homens do que entre as mulheres. Além disso, quanto maior a idade e a escolaridade, menor a incidência. O estudo estimou que mais de 40% da população mantém pelo menos dois desses comportamentos simultaneamente.
Para a análise das tendências de comportamentos de risco, foram utilizados dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2009 a 2019.
Impacto dos comportamentos de risco e DCNTs na saúde
Hoje, as DCNTs representam um significativo desafio para a saúde pública. São as principais causas de óbitos no mundo, e também resultam em morte prematura, incapacidades e redução da qualidade de vida. Além disso, as DCNTs contribuem para o aumento dos gastos com saúde e comprometem a sustentabilidade dos sistemas de saúde a longo prazo.
Esses fatores têm impactos econômicos adversos para indivíduos, famílias e a sociedade como um todo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), dezessete milhões de pessoas morrem prematuramente (menos de 70 anos) todos os anos no mundo por DCNTs. Os dados estão no relatório Números Invisíveis, lançado em 2022.
E de acordo com este relatório, a cada 2 segundos, uma pessoa com menos de 70 anos morre de uma DCNT. E do total de óbitos, 37% são causados por doenças cardiovasculares e 86% ocorrem em países de baixa e média renda. Doenças como câncer, diabetes, cardíacas e respiratórias matam mais pessoas que doenças infecciosas.
Ao se considerar o total de mortes, as DCNTs matam cerca de 41 milhões de pessoas por ano, segundo a OMS. Isto corresponde a 71% das mortes no mundo todo. No Brasil, estas doenças são responsáveis por aproximadamente 1,8 milhões de internações anuais no Sistema Único de Saúde. Os dados são do relatório “Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas e Agravos não Transmissíveis no Brasil 2021-2030”, que tem como base dados de 2019.
As DCNTs têm um impacto significativo nos custos da saúde e podem comprometer a sustentabilidade dos sistemas de saúde a longo prazo. No início dos anos 2000, as doenças crônicas já correspondiam a 75% dos gastos de internações pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O estudo “Qual o impacto das hospitalizações potencialmente preveníveis na Saúde Suplementar?”, realizado pela IESS, apontou que 5,2 milhões de beneficiários de planos de saúde foram hospitalizados em 2019. Destas 83% eram clínicas e as demais cirúrgicas. E mais de 70% eram em caráter de urgência/emergência. Deste total, 21,4 mil estão relacionadas a internações potencialmente evitáveis, o que equivale a 60 internações por dia. E para o estudo foram consideradas as CIDs diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca e doença cardíaca congestiva.
As doenças crônicas não param de crescer. O Atlas Mundial da Obesidade 2023, publicado recentemente pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation), estima que 51% da população mundial será obesa nos próximos 12 anos. Para o Brasil, é previsto que 41% dos adultos sejam obesos em 2035. A obesidade, além de ser uma doença crônica, também é fator de risco para outros problemas de saúde, como doenças cardiovasculares. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 14 milhões de pessoas têm alguma doença cardiovascular.
O que fazer?
A maioria das mortes prematuras por DCNTs e internações está diretamente relacionada a fatores de risco modificáveis, como obesidade, hábitos alimentares inadequados, falta de atividade física, tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e exposição à poluição ambiental. Para enfrentar esse desafio, deve-se criar programas que incentivem as pessoas a adotarem e manterem comportamentos saudáveis.
É fundamental educar as pessoas sobre os fatores de risco das DCNTs e promover a conscientização sobre a importância de um estilo de vida saudável. Isso pode ser feito por meio de campanhas e programas. Isto inclui o incentivo a prática regular de exercícios físicos em todas as faixas etárias, promoção de uma alimentação saudável, programas de cessação do tabagismo devem ser disponibilizados para ajudar as pessoas a pararem de fumar, conscientização sobre o uso do álcool, reconhecimento da importância da saúde mental na prevenção e manejo das DCNTs.