Os segredos de um “master chef”. Confira a entrevista exclusiva com Ivo Lopes

Simpático, conversador e cheio de opinião. Assim é Ivo Lopes, o chef que ficou conhecido por todo Brasil após participar da primeira edição do programa de TV Master Chef. E ele é conhecido mesmo, viu? Foi só andarmos por uma quadra em Dourados que as pessoas sorriam e o abordavam falando que acompanharam a participação dele no reality show. Sentamos para tomar um café, em poucos minutos parecia que nos conhecíamos há tempos. Ele fala rápido, tem personalidade forte e dá muitas risadas.

Nasceu no interior de Pernambuco, de família pobre, 12 irmãos. Perdeu o pai quando tinha 13 anos e precisou trabalhar cedo. Já morando no Rio de Janeiro, para ajudar no sustento da casa, foi trabalhar em um restaurante, lavava louças e logo passou a ser “masseiro” (quem prepara massas). Foi aí que tudo começou.
“No Rio comecei a trabalhar em restaurantes e comecei a conhecer os grandes chefs da culinária. Logo percebi que levava jeito e era aquilo que queria pra mim”, lembra Lopes.
Para ter noção, vou dar uma pausa aqui só pra você ver um resumo do currículo dele:
TRABALHOU COM DANIO BRAGA (LOCANDA DELLA MIMOSA, PETRÓPOLIS/RJ), LAURENT SUAUDEAU E PAULO BARROS, DE QUEM FOI BRAÇO-DIREITO NO FENÔMENO PAULISTANO DUE CUOCHI CUCINA POR 5 ANOS. A VASTA BAGAGEM SE TRADUZ NO ZELO EM RELAÇÃO À MATÉRIA-PRIMA UTILIZADA NA SUA COZINHA. EM CURITIBA PASSOU PELO TERRA MADRE, DO PREMIADO LA VARENNE E DO ALESSANDRO & FREDERICO. FOI ELEITO EM 2014 E 2015 O CHEF 5 ESTRELAS DO PRÊMIO BOM GOURMET E O MELHOR CHEF PELA VEJA COMER & BEBER CURITIBA.
Viu? Não é pouca coisa não. Ivo, também faz consultoria em restaurantes de todo país, acredita que já abriu e preparou equipes em pelo menos 35 estabelecimentos. Aliás, atualmente essa é sua maior função; viajar oferecendo consultorias e dando cursos. “Estou me preparando para ir para Europa, vou fazer consultoria e eventos por vários países, depois vou morar em Portugal”.
Ivo acredita que o mercado gastronômico do Brasil está saturado. Sem papas na língua ele afirma que, “a gastronomia no brasil está cansada. Virou moda ser “chef”, qualquer coisa é considerada “gourmet”, todo mundo acha que pode ser cozinheiro. Aí os bons cozinheiros realmente são mal remunerados. Isso cansa. Não valorizam nosso trabalho. Isso fez com que bons cozinheiros entrassem em extinção no Brasil”.
Depois dessa declaração, tive que perguntar o que tem quer uma pessoa para se tornar um bom cozinheiro. “Não é só cozinhar, é ter técnica, é respeitar a comida, o tempo da comida, a forma de cozimento. A pessoa tem que amar cozinhar. Comida tem alma, tem vida, tem que ter personalidade”.
Para ele, o grande problema dos restaurantes está na falta de padrão e no atendimento. “O cliente chega e gosta da comida, no outro dia ele volta e não está do mesmo jeito. Pra mim a prioridade é agradar o cliente. Um dia uma mulher chegou ao meu restaurante e pediu um prato que havia comido há muito tempo, falei que faria para ela. Após comer ela me disse que não tinha apenas comido, tinha feito uma viagem no tempo, que a memória gustativa tinha sido aflorada. É isso que eu gosto, eu gosto de causar sensações nas pessoas”.

Fiquei curiosa para saber como ele é em casa. Cozinha? Ele deu muita risada. “Agora você me pegou, minha casa é uma bagunça e não cozinho muito, até porque vivo viajando, não paro. Mas quando vou para casa da minha filha eu preparo a comida para ela, ela saboreia de tudo, gosta de boa comida. Aliás, odeio gente chata para comer. Que fala não gosto disso, não gosto daquilo. Se tem alergia, respeito. Mas não venha me falar que não gosta, tem que respeitar o alimento, a textura, o sabor de cada um. Minha filha com 10 anos já é assim”.
Mas e o que grande chef mais gosta de comer? “O simples é o mais gostoso. Não existe comida ruim, existe comida mal feita. Meu prato preferido é arroz com cebolinha, pimenta dedo de moça, azeite e ovo frito com gema cremosa”.
Eu contei para ele que sou péssima na cozinha e que é meu marido que faz e eu lavo a louça. Aí vou ter que escrever essa parte da matéria, como uma indireta pro maridão. “O bom cozinheiro não faz muita sujeira, não admite bagunça e louça suja. Todo bom cozinheiro começou na pia”. (viu tiago??? Kkkk).

Ivo lopes veio para a cidade à convite do Benedetto, para comemorar os 4 anos do restaurante. Para terminar nossa conversa ele falou que ama Dourados e se sente muito bem aqui. “É a terceira vez que venho para cá e sou recebido com muito carinho. Isso foi o que o programa Master Chef me trouxe de bom, o reconhecimento do público e o carinho. Já estamos programando para voltar pra cá”.
É claro, que eu não deixaria de fazer a pergunta clássica da Revista Celebrar.
Celebrar é....?
“Não tem como celebrar sem uma boa comida, celebrar é estar junto, é levar a pessoa querida a um lugar que marcou a vida dois. Celebrar e comida tem tudo a ver”.
Fotos: Anderson Zanatta

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