FALTA GENTILEZA, SOBRA DESRESPEITO

O ser humano é a criatura mais autodestrutiva que conheço. Aos poucos tem se tornado tão egoísta e tão mesquinho que não se importa mais com a coletividade e sim em salvar seu próprio rabo. Cada um de nós, pelas atitudes que tenho registrado por aí, está se transformando numa ilha, isolada e distante, em que o que basta é um celular na mão e um Wi-Fi disponível. Através disso, tem gente que imagina ser desnecessário o contato com outras pessoas, que não seja por mensagem de texto.

E com essa redoma que estamos construindo ao nosso redor, acaba ficando de fora a gentileza, o altruísmo e o respeito ao próximo que está próximo, mas enclausurado na sua própria redoma.

Nos pontos de ônibus as pessoas não conversam mais, apenas ficam imersas nos seus smartphones até o coletivo parar na frente. O mesmo acontece em aeroportos, filas, salas de espera e restaurantes. Outro dia almoçando sozinho, fiquei observando uma mesa onde um casal passou cerca de 40 minutos, cada um olhando para o seu celular. O máximo que conseguiam conversar era mostrando uma foto, vídeo ou texto, um pro outro. Pensei: “jamais quero chegar nesse ponto com a minha mulher. Se chegar, meu casamento acabou”.

E com esse vício, com essa doença que a tecnologia nos impregnou, estamos ficando cada vez mais distantes um do outro e deixando de lado valores importantes para uma vida em sociedade. Essas “facilidades”, chamemos assim, traz junto com ela a pressa e a individualidade. Por isso as palavras “Gentileza” e “Respeito” estão sumindo do vocabulário de muita gente.

Vou dar alguns exemplos. Diariamente tenho de levar minha filha à escola e ao sair de casa,sou obrigado a esperar, pelo menos uns 6 a 8 minutos, que uma boa alma me dê passagem para sair da garagem com o carro. Minha rua é estreita e movimentada e 80% dos motoristas que descem por ela não têm a capacidade e a gentileza de me dar espaço pra dar ré. Parece que isso vai lhes custar a vida, estragar seu dia. Muitos chegam a parar exatamente atrás de mim, trancando minha saída, esperando que o trânsito flua à frente. A impressão que me dá é que eles estão dizendo “NÃO DEIXO, ESSE ESPAÇO É MEU!”, como se aguardar alguns segundos fosse muito caro pra eles.

Mas há atitudes mais lamentáveis que tenho registrado. Moro em frente à Câmara Municipal onde, há meses, uma obra tem me tirado o sono. Isso porque, invariavelmente durante a semana, e nos finais também, um caminhão chega as 05:30h da manhã para recolher as caçambas com entulho que ficam “estacionadas” bem debaixo da minha janela. O barulho ensurdecedor do motor e da caçamba batendo na carroceria interrompem o descanso da minha família a essa hora, num desrespeito da empresa que faz isso que, com certeza, nem imagina que muitas vezes atravesso a noite trabalhando.

Mas a falta de gentileza e o excesso de descaso vão muito além do meu caso pessoal.Chegando a um supermercado outro dia pude observar uma “madame”, descarregando as compras no seu carrão de luxo e abandonando o carrinho no meio de uma vaga para deficientes. E o pior é que ela o abandonou ali e voltou para o supermercado, passando em frente ao local onde os carrinhos ficam enfileirados. Porque uma criatura como essa age assim? Porque não levou o carrinho de volta ao invés de interditar a vaga especial? Pra que tanta boçalidade, tanta imbecilidade, tanta arrogância e soberba?

No dia-a-dia também presencio pessoas nervosas no trânsito, querendo ocupar o máximo de espaço possível, buzinando desnecessariamente, jogando o carro contra os outros numa disputa insensata. Ainda vejo aquelas que jogam panfletos e papeis de bala pela janela,estacionam em fila dupla, usam o caixa preferencial sem ter idade pra isso e estacionam em calçadas como se fossem propriedades delas.

Tudo isso muito me assusta porque não podemos prever onde a humanidade vai parar com tamanho individualismo. Os bom dia, boa tarde e boa noite estão em desuso. A palavra Obrigado, então, está perdendo o sentido. A gentileza esta servindo apenas como moeda de troca por interesses e o individualismo tem sido a característica marcante dos relacionamentos.

É difícil acreditar que um dia mudaremos isso, mas faço a minha parte mesmo que não seja retribuído. Afinal, pra mim, ser gentil não é uma qualidade – é uma obrigação, é um ato de civilidade, de amor, indício de que ainda temos alma.


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